domingo, janeiro 20, 2008

Conto de Natal - Estacionamento

Ela,
o coração a bater esperanças.

Ele,
o pensamento a fazer corte aquele dia.

Ela,
Netos, filhos, dinheiro, mãe. Agora, um conjunto desinteressante.

Ele,
projectos em papel vegetal, ferramentas tridimensionais. Agora, outro conjunto desinteressante.

Ela,
corpo projectado para o ataque. Avançar, não esperar!

Ele,
corpo pensado no jogo, para o jogo. Avançar, esperar, avançar, esperar!

Ela,
redondel da Portela. O centro, mais precisamente o estacionamento. No horizonte próximo, a mota e o rabo de cavalo!

ACENO EFUSIVO

Ele,
Show-time. Assumir a pose e calçar a mota. Impressionar!

ACENO EFUSIVO

Ela,
Nasce, irrompe, explode. Natal...

Ele,
Nasce, irrompe, explode. Natal...

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Nunca é tarde para se começar...

Fidel Castro tira um retrato ao presidente Lula.

A Caixa preta...

10:25

Uma longa espera se avizinhara. Rapaz de poucos anos, umas reminescências capilares pelo rosto, a irrequietude que cansa na presença dos outros. A estreia seria aquela noite. Mais precisamente às 22:00

12:19

Trabalhador, respigador de mãos cheias, vai exercendo o seu ofício na outra margem, na cidade de sonho e futuro. Dizem. Ele não diz nada, só fala com os seus interstícios. Pergunta-se como, como??

14:50

A frase que desarma e clama pelo regresso ao real - Você está muito estranho hoje, parece que deixou de estar comigo - Não, não, está apenas de uma forma diferente. Tem vontade de dizer, todos temos os nossos dias. Mas não diz. Há dias menos bons para a respiga, pensa simplesmente.

15:50

O Palco, o duelo. Alguma coisa nele desejava comunicar, alguma coisa naquele tablado negro desejava não comunicar. Tratava-se de um palco de guerra, uma situação limite. Será que vai para o front ou enfia-se nas trincheiras? Não sabe responder, não é hora para grandes elaborações.

18:38

Precipitam-se as contracções e a impossibilidade de estar no plano real. Saem monossílabos, o som do trombone estala por dentro. Grave, muito grave é esse som que não o deixa serenar. Todo o texto passa em slide-show à sua frente. Vezes e vezes e vezes.

20:13

Alguém fala em comer. Nada entra, só pode sair. Não é hora de pensar em necessidades básicas. Alimentação, eliminação, evacuações, três movimentos primários da vida, deixaram simplesmente de existir. Só tinha uma única necessidade.

21:49

O Grupo em roda, impossível dar forma aquele verbo. Impossível. Apenas tremer e assumir o descontrolo. Estava descontrolado, as pernas pareciam sofrer de alguma enfermidade. A certeza que na próxima hora alguma coisa iria acontecer com a absoluta ausência do seu controlo. Deixa o corpo tremer, parecia dizer. Deixa o corpo tremer. Deixa, vá lá...

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Conto de Natal - Gasolina 95

Ela,
A urgência de abastecer o automóvel. Bomba de gasolina.

Ele,
Uma saída a mais. Dizer não à rotina.

Ela,
Espreitar os periódicos. A vida real e concreta.

Ele,
Discurso engatilhado. Espreitava-a.

Ela,
Distracção e mudez. Outra forma de silêncio.

Ele,
Com o seu obséquio, dizia-me por gentileza as horas.

Ela,
Outra vez o despojo e atrevimento. O quê ???

Ele,
É uma pena que não haja aqui uns croquetes. Vinham mesmo a calhar.

Ela,
Não estou a perceber. Adeus.

Ele,
Uma vez mais, adeus súbito. Talvez arriscar…

O TELEFONE

Ela,
as costas escondem o sorriso que se abre descontrolado. Dispara.

O NÚMERO

Ele,
Agarrou o número, sentiu um outro tempo. Sentiu.

Ela,
Desaba.Chora.Ri.Chora.RI.Chora.Ri.Chora.Ri.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Conto de Natal - Croquetes

Ela,
mulher séria, uma senhora idade, pouca dada às coisas do Amor.

Ele,
um estranho, casaco de cabedal a puxar pró antigo. Estilo.

Ela,
cansaço a mais, podia ler-se nos olhos. Até quando, dizia.

Ele,
Pelo contrário, inércia a mais. Até quando, dizia.

Ela,
uma cuidadora, filhos, netos, velhos. Sim, velhos.

Ele,
estiradora empoeirada, perdeu a utilidade. Um outro tempo.

Ela,
timidez, voz em fio, uns croquetes se faz favor. Muita fome.

Ele,
nuvem de fumo, outro lado do balcão. Curiosa timidez.

Ela,
fumar Mata, podia ler naquele maço de tabaco.

Ele,
ninguém diria que fuma. Cigarro ocasional?

Ela,
tanto despojo e atrevimento! Adeus.

Ele,
Adeus. Olhar adolescente. Embeiçado.