Respigar...
Em tempos de realidade fragmentada
Olho para aquilo que faço (quase) todos os dias
o borrão dificilmente se clarifica
Olhos vazios, olhos em meia-lua,
farrapo de uma vida curta,
aos bocados,
descontínua, sim, descontínua
Torta, desavinda
de costas,
por teimosia do destino,
ou pelo laborioso ardil
de um cruel artíficie
O borrão engana, dificilmente se clarifica
O Homem (a criança) vibra sob uma voz
frágil
diria, com muitos acordes dissonantes
no limite,
desafinada
A angústia resolve explodir
cansou-se de existência bolorenta
agora afirma-se com nome próprio
muito feio, por sinal
Alopécia
O pensamento corre, corre
desgovernado,
digo martelo
dizes atoinado,
ONDE ESTÁS...?
Ergue-se o muro
fechas todas as portadas
as vozes ficam deste lado
tu desenvolveste
um sofisticado sistema
de comunicação.Silêncio.
O corropio e o frenesim
entraram agora neste espaço
de mãos dadas
Digo STOP
o não reconhecimento
PARAR = PENSAR
O borrão continua borrão. Mancha preta
A resposta é respigar. É isso que faço
(quase todos os dias)
boneco playmobil, família disfuncional
bola de futebol, fazer escorregar o sofrimento
caracteres do word, o vislumbre do fantasma
nomeado
Respigar por aqui ou por acolá?
Escolhas. Muitas dúvidas
Oficina de carros,
a continuidade possível
desenhar ou rabiscar
é isso
autonomia ou dependência
Disseste crescer?
Braços, pernas,
uma cabeça,
par de olhos e nariz,
falta a boca, mais
umas tantas ideias,
está feita a nossa respiga de hoje.
Um boneco de olhos meia-lua feito gente. Criança
Vivo da respiga. Não é coisa que dê lá muito dinheiro ou preciosa satisfação.
Mas sou assim, um perdido por respigar.
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