sexta-feira, agosto 03, 2007

Respigar...

Em tempos de realidade fragmentada
Olho para aquilo que faço (quase) todos os dias

o borrão dificilmente se clarifica

Olhos vazios, olhos em meia-lua,
farrapo de uma vida curta,
aos bocados,
descontínua, sim, descontínua

Torta, desavinda
de costas,
por teimosia do destino,
ou pelo laborioso ardil
de um cruel artíficie

O borrão engana, dificilmente se clarifica

O Homem (a criança) vibra sob uma voz
frágil
diria, com muitos acordes dissonantes
no limite,
desafinada

A angústia resolve explodir
cansou-se de existência bolorenta
agora afirma-se com nome próprio
muito feio, por sinal
Alopécia

O pensamento corre, corre
desgovernado,
digo martelo
dizes atoinado,
ONDE ESTÁS...?

Ergue-se o muro
fechas todas as portadas
as vozes ficam deste lado
tu desenvolveste
um sofisticado sistema
de comunicação.Silêncio.

O corropio e o frenesim
entraram agora neste espaço
de mãos dadas
Digo STOP
o não reconhecimento
PARAR = PENSAR

O borrão continua borrão. Mancha preta

A resposta é respigar. É isso que faço
(quase todos os dias)
boneco playmobil, família disfuncional
bola de futebol, fazer escorregar o sofrimento
caracteres do word, o vislumbre do fantasma
nomeado

Respigar por aqui ou por acolá?

Escolhas. Muitas dúvidas
Oficina de carros,
a continuidade possível
desenhar ou rabiscar
é isso
autonomia ou dependência
Disseste crescer?

Braços, pernas,
uma cabeça,
par de olhos e nariz,
falta a boca, mais
umas tantas ideias,
está feita a nossa respiga de hoje.
Um boneco de olhos meia-lua feito gente. Criança

Vivo da respiga. Não é coisa que dê lá muito dinheiro ou preciosa satisfação.
Mas sou assim, um perdido por respigar.

Sem comentários: