sexta-feira, outubro 26, 2007

Traveling Light

"Sempre levei na bagagem muito pouca coisa"
Al Berto, Lunário

Sempre viajei carregado de objectos inúteis. Brilhantes de copos quebrados, vozes em jornais velhos, poemas sobre outros corpos e fotografias de amores sépia. Reconheço agora o seu peso no meu corpo, a sua marca nos meus ombros, a falta de fôlego, a sua aspereza na minha respiração e a leveza do seu abandono.

Usei-te como uma segunda pele e sei que não tenho o direito à última palavra. E agora, finalmente, viajo sem bagagem.

sábado, outubro 13, 2007

A morte é uma flor


O quarto Andamento do grupo - A morte é uma flor.

Será?

Pensar a Morte remete-nos para a mais absoluta ignorância e desconhecimento.

Como descerrar esse instante final?

A brincar às mortes, uma possibilidade.

Aqui vai disto...

domingo, outubro 07, 2007

Todo o pranto tem hora... Cartola



Disfarça e Chora









quarta-feira, agosto 15, 2007

Se o amor tiver um rosto...

Mais uma achado da minha respiga...



Apresento a Dona Esmeraldina...matriarca de uma família em construção.

A obra respigadora faz-se assim...devagar...

BUM,BUM KALASHNIKOV

Uma vez ou outra apetece-me fazer uso de uma AK-47, coronha reversível, vulgo kalashnikov, é que há pra aí safardanas aos magotes a infernizar a vida de gente direita e com propósitos honrados. Como tal não se afigura possível, vem a lume uma receita para a pilantragem de más rés, desse coimbrão de seu nome Assis Pacheco, Fernando. Então, reza assim...

“...Quando o Padeiro Velho de Casdemundo teve a certeza que Manolo Cabra lhe desfeiteara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas de San Bartolomé. O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas...”

Podem invejar tamanha façanha, eu também invejei. Não seria possível despacharmos “assuntos pendentes” com a ajuda ficcional do Homem?

A beleza

"...É como um girassol, ou seja, precisa de uma boa casa de banho..."

sexta-feira, agosto 03, 2007

Respigar...

Em tempos de realidade fragmentada
Olho para aquilo que faço (quase) todos os dias

o borrão dificilmente se clarifica

Olhos vazios, olhos em meia-lua,
farrapo de uma vida curta,
aos bocados,
descontínua, sim, descontínua

Torta, desavinda
de costas,
por teimosia do destino,
ou pelo laborioso ardil
de um cruel artíficie

O borrão engana, dificilmente se clarifica

O Homem (a criança) vibra sob uma voz
frágil
diria, com muitos acordes dissonantes
no limite,
desafinada

A angústia resolve explodir
cansou-se de existência bolorenta
agora afirma-se com nome próprio
muito feio, por sinal
Alopécia

O pensamento corre, corre
desgovernado,
digo martelo
dizes atoinado,
ONDE ESTÁS...?

Ergue-se o muro
fechas todas as portadas
as vozes ficam deste lado
tu desenvolveste
um sofisticado sistema
de comunicação.Silêncio.

O corropio e o frenesim
entraram agora neste espaço
de mãos dadas
Digo STOP
o não reconhecimento
PARAR = PENSAR

O borrão continua borrão. Mancha preta

A resposta é respigar. É isso que faço
(quase todos os dias)
boneco playmobil, família disfuncional
bola de futebol, fazer escorregar o sofrimento
caracteres do word, o vislumbre do fantasma
nomeado

Respigar por aqui ou por acolá?

Escolhas. Muitas dúvidas
Oficina de carros,
a continuidade possível
desenhar ou rabiscar
é isso
autonomia ou dependência
Disseste crescer?

Braços, pernas,
uma cabeça,
par de olhos e nariz,
falta a boca, mais
umas tantas ideias,
está feita a nossa respiga de hoje.
Um boneco de olhos meia-lua feito gente. Criança

Vivo da respiga. Não é coisa que dê lá muito dinheiro ou preciosa satisfação.
Mas sou assim, um perdido por respigar.

terça-feira, julho 17, 2007

My Favourite Things



John Coltrane morreu há 40 anos

sexta-feira, junho 29, 2007

Pelos lados da Junqueira




Quando a vida é um milagre...

domingo, junho 17, 2007

Almada sua puta

"Almada sua puta, nunca fomos Amadora"
Fotografia do César Reis.

quarta-feira, junho 13, 2007

Sábes bem!


Porque o amor é um erro de acentuação.

terça-feira, maio 01, 2007

Abraço colectivo

Vamos ter aulas lá em baixo, sim, na sala de matrecos. Estranho, tens mesmo a certeza. Está bem, já vou, o quê ?? Não, nunca me lembro desses recados especiais, já sabes. Roupas confortáveis.

Olivais, cercanias da velha igreja,

Figura estranha, voz arranhada, olhos doces, próximos de toda a gente. Chama-se Arlete, é a nossa professora de uma disciplina de Opção – Dinâmicas de grupo. Uma roda de gente, Pedro deitado na praia, Pipa a remexer no cabelo da futura presidente Mara, a Anita a espreitar para um outro lado da sua formosura, hipnose, é o que eu chamo a isto. Hipnose, só pode ser. Ou então, uma charlatã de uma dessas coisas obscuras. Quem é mesmo esta senhora ??? O que é que viemos aqui fazer??? Isto é um curso de enfermagem, não é lugar para estas coisas imprecisas. Vá, vamos embora, Psst, Psst…Não queres vir, NÃO!!!...

as costas de um centro paroquial,

Pintar um cartaz com as nossas imagens, as nossas referências !!!! Ah, sim, já percebi. Estamos num atelier de expressão plástica. Muito bem, quantos cursos superiores estão cheios de coisas inúteis. Mas porque é que toda a gente está a sorrir, tanta espontaneidade, e cores várias a dar forma a esse papel pardo. Desculpa, sei que não tenho jeito nenhum para isto, não, não vale a pena, trago muito peso lá de fora, o pincel pesa demais nesta mão direita. É quase uma inaptidão…..Apetece-me deitar, juntar-me ao chão, talvez segurar no lápis de carvão, um azul, e outro verde, alguma coisa há de sair…Não sei se consigo disfarçar este prazer, alguém estará a reparar??? Aquela presença, o seu olhar.

Fábricas, carrinhas brancas cheias de mercadoria

Estamos tão próximos, sinto a tua pele, sinto-te a pulsar. Estás calma, e tu também, suas muito das mãos, que tal soltar a mão, já percebi, não queres romper o cordão. Mãos dadas, o olhar do outro, uns muito malandros cheios de reviengas, outros a pedir colo, muito moribundos, aquele está muito nervoso, será da presença dela, não sei. Outra a vez a fazer coisas sem sentido, tem mesmo que ser assim? Agora são os braços que se tocam, se cruzam, ficamos em nó. Aparentemente indissociável. Estamos juntos, é só isso que se exige. Muitos braços em roda e o silêncio. Porreiro. Estás sempre aí, aparentemente de fora em observação, mas não consegues evitar colocar-te dentro, no meio, ao lado. Estás aqui. Estás.

Gentes da faculdade, o olhar cabisbaixo do Sr.Ramos, o coração amanteigado no dizer da Dona Aurora, um outro coração susceptível, no meu dizer.

Estou deitado, braços firmes junto ao tronco. Espero. Sinto o toque. Dedos a fazer piruetas na minha cara bolachuda. Coreografia de prazer, proximidade. Quantos bailarinos pisam assim o meu rosto?? Coisa boa demais, confesso no meu outro sotaque. Continuem, não parem, continuem, não se vão embora, acomodem-se. Por favor, eu apelo à Prof.Arlete, por favor, queiram parar eternamente no meu rosto.

estava encontrada a capela mortuária

O centro da roda. Um duelo, as armas, as nossas vidas. Cadeiras, corpo empurrado à frente, o meu discurso cheio de bolor, a ultrapassar claramente o prazo. O passado. Não, não, não, não, quero falar disso. Já posso sair, ainda tenho que ficar mais, porquê a vossa cara assustada, meus colegas, meus amigos. Tenho que acabar com isto. Não quero falar mais, não quero. Dizes-me enfim alguma coisa. Gastei todos os cartuchos. Ficam as tuas palavras, fica a tua companhia, a impressão que não estava a falar pró boneco. Continuas aí, obrigado. Talvez tenha sido bom disparar umas quantas balas.

a névoa, os contornos do ritual instituído, o corpo coberto

Ninguém quer aceitar o final das suas aulas, nem mesmo eu. Falas do grupo, das pessoas, de como podemos estar na vida de uma outra forma. Desejas que sejamos bons enfermeiros, palavras de circunstância, ainda assim, as tuas palavras. Urge fazer qualquer coisa, meus amigos, seguramente estão a sentir o mesmo que eu. Sim, é isso, ABRAÇO COLECTIVO. No uso de uma outra linguagem, diria que estamos em estado fusional. Massa de betão. Qualquer coisa de indivisível. Eta, coisa boa. Deixa-me encostar a cabeça. Tão bom. Quentinho.

As minhas lágrimas, uma pessoa transformado em legado, o abraço. Para sempre.

quarta-feira, abril 25, 2007

Filhos da Madrugada

Av da Liberdade - 25.ABR.2007

domingo, março 04, 2007

Dizer não !!!

O outro lado da linha, uma parte da minha vida, estilhaços daquilo que procurei...

Parabéns, meu pai !!!

O telefone, a tua voz -grave e sumidiça - a rodopiar sobre um dia de idade redonda. 60 anos. Parecias feliz em companhia das palavras de circunstância de um dos teus filhos. Queria dizer algo mais, queria significar todas as noites que a tua lembrança sangra o sonho. Derramo-me em polaroids descoloridas, instantâneos que retratam o medo.

Parabéns, meu pai !!!

O cachimbo no canto da boca, um ar altivo e pesado, contornos de fumo em círculos, o cheiro a ficar agarrado a cada canto da casa. O café pela manhã, a porta entreaberta, o teu dia que se pensava na sanita, muito poucas palavras, a despedida apressada. A seco, de costas, em fuga.

Parabéns, meu pai !!!

O aeroporto, porta de chegada. A espera. Brasil, Angola, EUA, locais fantasiados na tua ausência. Horas madrugadoras, muitas ramelas no bordo interno dos olhos, cabelos em desalinho, o nervosismo em palavras mais acesas naquele jogo verbal entre a mana velha e a mãe. Estavas a chegar. Em nós instalava-se devagar a tua iminente chegada. Um carro de rodas metálicas, cinzento-prata, muitas malas, talvez uma prenda desejada há muito. O teu porte imperial a irromper naquela avenida descendente. Chegaste, queríamos um abraço perdido no tempo que andaste em roda livre por todos aqueles países. Um abraço.

Parabéns, meu pai !!!

Uma vez mais, a tua voz ao telefone. Perguntavas-me todos os meses…Como estás meu filho?...A resposta invariável, está tudo bem pai, tudo bem. A escola, os manos, o Sporting, conversas à volta de nada, não sabia responder mais nada para além de tudo bem. A minha única resposta, o peso acumulado, a sensação de estar ausente na presença da tua voz. Muitos meses, anos, a ausência tornada presente entre um tudo bem, talvez, não sei, a anuência evasiva à tua forma característica de dizeres presente.

Parabéns, meu pai !!!

O Renault 25, o nosso carro-sonho. O meu pai tem um carro que fala, que nos diz quando a porta está mal fechada, o teu pai ainda conduz carros que não falam. Sim, o carro afirmava um pai idealizado na ida ao velhinho estádio de Alvalade, onde se desfilavam histórias do passado, das vitórias de um outro tempo, dos rádios a pilha encostados aos ouvidos, das almofadas “emblemadas” pelo leão, sentava-me a teu lado na fila 33 lugar 7 e esperava. Esperava que o meu imaginário fizesse rodopios em redor da tua vida num passado recente.
O mesmo carro que nos transportava até ao estádio nacional, raquetes na mão, o saibro debaixo dos pés, um jogo de match-points, bola lá, bola cá, o suor empoeirado, o esgar feliz no teu rosto, tinhas conseguido ir ao nosso encontro. Jogar ténis, voltar a ti, aos momentos fragmentados do orgulho que crescia na tua condição de pai. O meu pai tem um carro que fala, o teu não. Sim, é verdade, o meu pai…

Parabéns, meu pai !!!

17 anos e um cadeirão, eis o que me esperava quando o meu mapa de referências subitamente se transforma. Tinha chegado ao Brasil. Estava, enfim, na tua presença. O cadeirão convidava-me a estar na tua cabeceira, urgia começar a ouvir-te, apreender as histórias que te fizeram filho, pai, avô, homem de negócios, empreendedor de mãos cheias, uma admiração que crescia sempre que uma nova história se erguia no meu intimo. Ao redor, a escuridão de um quarto arrefecido pela refrigeração, as imagens televisionadas a sucederem-se, a recusa pela luz natural, novamente, as histórias de outrem, a tonalidade cinzenta, parda, descolorida que se foi sedimentando pela calada, digamos, de forma insidiosa.

Parabéns, meu pai !!!

A herança, o legado de uma condição marginal. Finanças, IRS, Segurança Social, figura de contribuinte, licenças camarárias, formalismos burocráticos, ratificações cegas, dívidas trabalhistas, entidades fantasmas, contextos ausentes de significado ao longo da tua vida. Guardo tudo isso com admiração confessa, conservo esse registo border-line em muitas instâncias da minha vida, uma impulsividade que me impele a subverter muitas coisas estabelecidas, que me empurra para o pai que ainda idealizo.

Parabéns, meu pai !!!

A tua fragilidade, um olhar que assume uma outra nuance. Não podes oscilar mais entre polaridades extremas, não, ergo o braço e digo basta. Um exercício de auto-comiseração que me deixa completamente carcomido, sem espaço para voltar a respirar ar de segurança e determinação. Dizer não, é tudo quanto me resta para te acomodar em sonhos reparadores.
Dizer NÃO ...

terça-feira, fevereiro 27, 2007

A Magia da Rádio

Porque é que será que a menina não se encosta mim quando dança? Será medo de me pisar?


José Duarte em A Menina Dança?

domingo, janeiro 14, 2007

Costa Vicentina

Onde a falésia fecha a sua curva sobre o mar, um pouco para lá do fim do areal, no exacto local onde as ondas rebentam, é lá que quero largar a âncora e deixar os meus pés enterrarem-se entre as algas.