sexta-feira, setembro 15, 2006

Galão e meia-torrada

O dia começou torto, desviado. A noite foi madrasta, branca, aos repelões...
Os silvos desesperados do meu irmão roubaram-me essa possibilidade. Estava a vomitar a própria vida, precipitava a perguntar-me...meu irmão, como é possível viver com esta doença?...O meu silêncio perpetuou a dúvida, a incógnita. Gostaria de ter a resposta pronta, cabal, definitiva. Não tenho. Não consigo enfrentar essa pergunta, dói demais aqui dentro.
A minha vida ganhou mais um dia, este forçosamente pálido e inexpressivo. Arrastei um corpo cansado até este café, palco das minhas memórias recentes...
Um Galão e meia-torrada, se faz favor, pedi eu com voz embargada. Um pouco de leite, mais outro tanto de café, uma gorda fatia de pão generosamente coberta de manteiga. Galão, três rectângulos amanteigados, não será isto voltar a viver? Copo alto vazio, papéis embotados de gordura animal, símbolos maiores de um novo esgar de vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mano Tiago,

O que mais me magoa nessa doença, não é apenas o facto de teres ela é a forma que a contraíste. Será que ele merece uma segunda chance? Anafado, Fofão, mafioso.