Debruçando-se da escarpa da falésia
Debruçando-se da escarpa da falésia João olha para baixo mas não vê o mar. Á sua frente estende-se antes uma planície irregular de terrenos cultivados de onde desponta a folhagem de batatas, couves e nabiças, as videiras trepam por canas e quando estas terminam continuam a crescer enleadas em árvores de fruto e oliveiras. O terreno, retalhado em parcelas mínimas traçadas por pequenos muros de granito, retrata a mesquinhez das divisões familiares que sulcam os rostos queimados dos habitantes da aldeia à sua direita. O cancro da avareza só possível pela riqueza do solo. João lá esteve antes e ainda ali tem ligações familiares mas a distância entre ele e estes é tão grande como a serra que marca toda a paisagem à sua esquerda. Não que João alguma vez tivesse tido uma ideia precisa do que queria ser. Sabia apenas não querer pertencer áqueles e morrer como eles, numa cama de hospital, desconhecedores do seu destino.
“Não me digas que acreditas no destino?” Perguntava-lhe alguém há dias acerca de uma morte estúpida numa praia do Rio de Janeiro. “Claro que não, referia-me apenas ao fortuito e ao acaso”. João mentiu sem intenção. Há não muito tempo atrás imaginava interpretações apartir da disposição das beatas num cinzeiro e antes disso fazia-o quando olhava para as marcas de pneus numa estrada depois da chuva.
Debruçando-se da escarpa da falésia João olha para baixo e desta vez vê o mar. À sua esquerda um farol, que ele interpreta como um indicar de direcção para o mar, e à sua direita uma povoação onde apenas conhece a senhora que lhe deu a chave do quarto da pousada, sinal claro de que há ainda portas por abrir. Há ainda um terceiro sinal, o primeiro de todos, a alastrar nas suas costas, uma nefasta herança familiar. Não lhe interessa se lhe restam 6 meses ou 6 dias. João vai fazer como sempre fez: adiar até à última hora e esperar que ainda tenha a clareza de espírito para ali regressar uma última vez.
“Não me digas que acreditas no destino?” Perguntava-lhe alguém há dias acerca de uma morte estúpida numa praia do Rio de Janeiro. “Claro que não, referia-me apenas ao fortuito e ao acaso”. João mentiu sem intenção. Há não muito tempo atrás imaginava interpretações apartir da disposição das beatas num cinzeiro e antes disso fazia-o quando olhava para as marcas de pneus numa estrada depois da chuva.
Debruçando-se da escarpa da falésia João olha para baixo e desta vez vê o mar. À sua esquerda um farol, que ele interpreta como um indicar de direcção para o mar, e à sua direita uma povoação onde apenas conhece a senhora que lhe deu a chave do quarto da pousada, sinal claro de que há ainda portas por abrir. Há ainda um terceiro sinal, o primeiro de todos, a alastrar nas suas costas, uma nefasta herança familiar. Não lhe interessa se lhe restam 6 meses ou 6 dias. João vai fazer como sempre fez: adiar até à última hora e esperar que ainda tenha a clareza de espírito para ali regressar uma última vez.
1 comentário:
Eu acredito no destino, acredito que seria da Virginia e ela minha, e cada dia que passar mais sei isso. E que esse voltar seja eterno. China, que seja eterno!
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