O elemento escatológico
O dia inteiro. Sentas no banco ao lado do último degrau da escadaria que vai até à igreja, vens suja, tão descuidada. Uma feiúra que denuncia a coisa doença. Murmuras…
- 3 pedras, mais 56 pedrinhas, orquídeas são às dúzias. Ó Joaquim…
O teu património organiza-se em sacos de plástico. Sacos de diferentes supermercados e lojas servem o propósito de guardar diferentes fios e cordas, revistas Maria, uma lata de salsicha aberta, algumas agulhas de tricot, pacotes de bolhacha de aveia já encetados, cabelos de bonecas…
- totoloto, euromilhões, olha a roda, olha a lotaria. Sexta anda a roda!!!!!!!
Uma outra linguagem não acessível, um idioma que recrias diariamente para dar consistência aquilo que só tu vês. Uma pensamento que deriva para tantos lugares e pessoas, sempre a disparar e com nenhuma hipótese de parar.
- Pombo, pombinho, vem aqui à mãe, vem aqui à mãezinha…
Do outro lado, de um lugar que a tua vista não alcança tão facilmente aproxima-se um homem que terá acabado a sua corrida habitual. Faz os exercícios de alongamento, torce e destorce o corpo enquanto tu fitas com invulgar atenção todo aquele aparato muscular. Esboças um pequeno movimento e levantas-te, sentias que tinhas observar com outra proximidade...
- Tou aqui com umas “bexiguezas”, que coisa maldita…
Chegara a hora do momento esperado. Aproximas-te ainda mais, assumes o confronto com o homem da corrida de tal forma, que apenas decides baixar as calças no meio do largo e fazer o que tinhas a fazer – aliviar as tais “bexiguezas”. No semblante do homem da corrida um esgar de nojo e de total constrangimento, no rosto daquela senhora, o sorriso escancarado…
- Olhó MARICAS…Parece que nunca viu !!!!!!!!!!!!!!!
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