sábado, março 22, 2008

A noite branca

Não sei como te chamas. Já procurei no catálogo das plantas exóticas, ontem mesmo, dei a volta à minha enciclopédia de espécies raras, e tu simplesmente não encaixas. Uma outra natureza. Cravas as raízes na multidão e soltas silenciosos esgares…

- A noite, esse poço interminável. Como cavar mais fundo??

Várias mantas e outros trajes grosseiros compõem a forma como te apresentas, como se quisesses esconder o teu porte imperial, um passado que se advinha na liderança, na congeminação da mudança, no limiar de uma outra forma de estar…

- A noite, porquê tanta tormenta, quando acabam todas estas dúvidas?

És árvore-guardiã, descobri. A tua expressividade, ou talvez, a forma como se conjugam em ti, - olhar e contracção do músculo facial - , incomodam pelos contornos não humanos. Não és homem, és espectro, és vaga. Continuas a tentar soprar algo pouco tangível…

- A noite dispersa-me, não me permite o contacto, retirou-me a expressão!

Não és condição humana, não és. Ocorre-me a palavra vertiginoso quando te vejo, quando o teu estado de absoluta imobilidade me interpela, com a seguinte proposta…abismo, precipício, irreversível mergulho…

- Mortais traunseuntes à luz do dia, elementos acessórios da minha noite.

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