Abraço colectivo
Vamos ter aulas lá em baixo, sim, na sala de matrecos. Estranho, tens mesmo a certeza. Está bem, já vou, o quê ?? Não, nunca me lembro desses recados especiais, já sabes. Roupas confortáveis.
Olivais, cercanias da velha igreja,
Figura estranha, voz arranhada, olhos doces, próximos de toda a gente. Chama-se Arlete, é a nossa professora de uma disciplina de Opção – Dinâmicas de grupo. Uma roda de gente, Pedro deitado na praia, Pipa a remexer no cabelo da futura presidente Mara, a Anita a espreitar para um outro lado da sua formosura, hipnose, é o que eu chamo a isto. Hipnose, só pode ser. Ou então, uma charlatã de uma dessas coisas obscuras. Quem é mesmo esta senhora ??? O que é que viemos aqui fazer??? Isto é um curso de enfermagem, não é lugar para estas coisas imprecisas. Vá, vamos embora, Psst, Psst…Não queres vir, NÃO!!!...
as costas de um centro paroquial,
Pintar um cartaz com as nossas imagens, as nossas referências !!!! Ah, sim, já percebi. Estamos num atelier de expressão plástica. Muito bem, quantos cursos superiores estão cheios de coisas inúteis. Mas porque é que toda a gente está a sorrir, tanta espontaneidade, e cores várias a dar forma a esse papel pardo. Desculpa, sei que não tenho jeito nenhum para isto, não, não vale a pena, trago muito peso lá de fora, o pincel pesa demais nesta mão direita. É quase uma inaptidão…..Apetece-me deitar, juntar-me ao chão, talvez segurar no lápis de carvão, um azul, e outro verde, alguma coisa há de sair…Não sei se consigo disfarçar este prazer, alguém estará a reparar??? Aquela presença, o seu olhar.
Fábricas, carrinhas brancas cheias de mercadoria
Estamos tão próximos, sinto a tua pele, sinto-te a pulsar. Estás calma, e tu também, suas muito das mãos, que tal soltar a mão, já percebi, não queres romper o cordão. Mãos dadas, o olhar do outro, uns muito malandros cheios de reviengas, outros a pedir colo, muito moribundos, aquele está muito nervoso, será da presença dela, não sei. Outra a vez a fazer coisas sem sentido, tem mesmo que ser assim? Agora são os braços que se tocam, se cruzam, ficamos em nó. Aparentemente indissociável. Estamos juntos, é só isso que se exige. Muitos braços em roda e o silêncio. Porreiro. Estás sempre aí, aparentemente de fora em observação, mas não consegues evitar colocar-te dentro, no meio, ao lado. Estás aqui. Estás.
Gentes da faculdade, o olhar cabisbaixo do Sr.Ramos, o coração amanteigado no dizer da Dona Aurora, um outro coração susceptível, no meu dizer.
Estou deitado, braços firmes junto ao tronco. Espero. Sinto o toque. Dedos a fazer piruetas na minha cara bolachuda. Coreografia de prazer, proximidade. Quantos bailarinos pisam assim o meu rosto?? Coisa boa demais, confesso no meu outro sotaque. Continuem, não parem, continuem, não se vão embora, acomodem-se. Por favor, eu apelo à Prof.Arlete, por favor, queiram parar eternamente no meu rosto.
estava encontrada a capela mortuária
O centro da roda. Um duelo, as armas, as nossas vidas. Cadeiras, corpo empurrado à frente, o meu discurso cheio de bolor, a ultrapassar claramente o prazo. O passado. Não, não, não, não, quero falar disso. Já posso sair, ainda tenho que ficar mais, porquê a vossa cara assustada, meus colegas, meus amigos. Tenho que acabar com isto. Não quero falar mais, não quero. Dizes-me enfim alguma coisa. Gastei todos os cartuchos. Ficam as tuas palavras, fica a tua companhia, a impressão que não estava a falar pró boneco. Continuas aí, obrigado. Talvez tenha sido bom disparar umas quantas balas.
a névoa, os contornos do ritual instituído, o corpo coberto
Ninguém quer aceitar o final das suas aulas, nem mesmo eu. Falas do grupo, das pessoas, de como podemos estar na vida de uma outra forma. Desejas que sejamos bons enfermeiros, palavras de circunstância, ainda assim, as tuas palavras. Urge fazer qualquer coisa, meus amigos, seguramente estão a sentir o mesmo que eu. Sim, é isso, ABRAÇO COLECTIVO. No uso de uma outra linguagem, diria que estamos em estado fusional. Massa de betão. Qualquer coisa de indivisível. Eta, coisa boa. Deixa-me encostar a cabeça. Tão bom. Quentinho.
As minhas lágrimas, uma pessoa transformado em legado, o abraço. Para sempre.
Olivais, cercanias da velha igreja,
Figura estranha, voz arranhada, olhos doces, próximos de toda a gente. Chama-se Arlete, é a nossa professora de uma disciplina de Opção – Dinâmicas de grupo. Uma roda de gente, Pedro deitado na praia, Pipa a remexer no cabelo da futura presidente Mara, a Anita a espreitar para um outro lado da sua formosura, hipnose, é o que eu chamo a isto. Hipnose, só pode ser. Ou então, uma charlatã de uma dessas coisas obscuras. Quem é mesmo esta senhora ??? O que é que viemos aqui fazer??? Isto é um curso de enfermagem, não é lugar para estas coisas imprecisas. Vá, vamos embora, Psst, Psst…Não queres vir, NÃO!!!...
as costas de um centro paroquial,
Pintar um cartaz com as nossas imagens, as nossas referências !!!! Ah, sim, já percebi. Estamos num atelier de expressão plástica. Muito bem, quantos cursos superiores estão cheios de coisas inúteis. Mas porque é que toda a gente está a sorrir, tanta espontaneidade, e cores várias a dar forma a esse papel pardo. Desculpa, sei que não tenho jeito nenhum para isto, não, não vale a pena, trago muito peso lá de fora, o pincel pesa demais nesta mão direita. É quase uma inaptidão…..Apetece-me deitar, juntar-me ao chão, talvez segurar no lápis de carvão, um azul, e outro verde, alguma coisa há de sair…Não sei se consigo disfarçar este prazer, alguém estará a reparar??? Aquela presença, o seu olhar.
Fábricas, carrinhas brancas cheias de mercadoria
Estamos tão próximos, sinto a tua pele, sinto-te a pulsar. Estás calma, e tu também, suas muito das mãos, que tal soltar a mão, já percebi, não queres romper o cordão. Mãos dadas, o olhar do outro, uns muito malandros cheios de reviengas, outros a pedir colo, muito moribundos, aquele está muito nervoso, será da presença dela, não sei. Outra a vez a fazer coisas sem sentido, tem mesmo que ser assim? Agora são os braços que se tocam, se cruzam, ficamos em nó. Aparentemente indissociável. Estamos juntos, é só isso que se exige. Muitos braços em roda e o silêncio. Porreiro. Estás sempre aí, aparentemente de fora em observação, mas não consegues evitar colocar-te dentro, no meio, ao lado. Estás aqui. Estás.
Gentes da faculdade, o olhar cabisbaixo do Sr.Ramos, o coração amanteigado no dizer da Dona Aurora, um outro coração susceptível, no meu dizer.
Estou deitado, braços firmes junto ao tronco. Espero. Sinto o toque. Dedos a fazer piruetas na minha cara bolachuda. Coreografia de prazer, proximidade. Quantos bailarinos pisam assim o meu rosto?? Coisa boa demais, confesso no meu outro sotaque. Continuem, não parem, continuem, não se vão embora, acomodem-se. Por favor, eu apelo à Prof.Arlete, por favor, queiram parar eternamente no meu rosto.
estava encontrada a capela mortuária
O centro da roda. Um duelo, as armas, as nossas vidas. Cadeiras, corpo empurrado à frente, o meu discurso cheio de bolor, a ultrapassar claramente o prazo. O passado. Não, não, não, não, quero falar disso. Já posso sair, ainda tenho que ficar mais, porquê a vossa cara assustada, meus colegas, meus amigos. Tenho que acabar com isto. Não quero falar mais, não quero. Dizes-me enfim alguma coisa. Gastei todos os cartuchos. Ficam as tuas palavras, fica a tua companhia, a impressão que não estava a falar pró boneco. Continuas aí, obrigado. Talvez tenha sido bom disparar umas quantas balas.
a névoa, os contornos do ritual instituído, o corpo coberto
Ninguém quer aceitar o final das suas aulas, nem mesmo eu. Falas do grupo, das pessoas, de como podemos estar na vida de uma outra forma. Desejas que sejamos bons enfermeiros, palavras de circunstância, ainda assim, as tuas palavras. Urge fazer qualquer coisa, meus amigos, seguramente estão a sentir o mesmo que eu. Sim, é isso, ABRAÇO COLECTIVO. No uso de uma outra linguagem, diria que estamos em estado fusional. Massa de betão. Qualquer coisa de indivisível. Eta, coisa boa. Deixa-me encostar a cabeça. Tão bom. Quentinho.
As minhas lágrimas, uma pessoa transformado em legado, o abraço. Para sempre.
1 comentário:
Já passou algum tempo, bem sei... queria ter escrito mais cedo, mas ainda assim há abraços que são perenes...
Ricardo, com este texto fazemos a viagem da criança feliz por lembranças irrepetíveis...
Um abraço, aquele abraço que nos enleia
Mª João
(www.como-aguarela.blogspot.com)
Enviar um comentário