Motim no 13º Bairro Fiscal
As negociações seguem a bom ritmo até que alguém se lembra de desabafar um “A culpa é toda do Sócrates”. Indignada, uma jovem com um ar muito saudável, reage violentamente ao soco e pontapé gritando “a culpa nunca pode ser de um homem tão charmoso!”. A violência alastra visando principalmente os funcionários por de trás dos balcões. O chefe de repartição tranca-se no escritório e pede reforços. Dos restantes bairros fiscais de Lisboa acorrem funcionários munidos de arsenal pesado: Todas as edições do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares e Colectivas desde 1982 e formulários de auditorias e penhoras. A batalha segue renhida até à chegada da polícia de choque. O cenário é dantesco: funcionários públicos enforcados com fios de telefone pendurados no tecto, contribuintes em estado catatónico a sussurrarem “a alínea 313-B do decreto 378.908.812/96 não, por favor, não”. São disparados tiros para dispersar, que são interpretados num outro bairro ali perto, o 6 de Maio, como a chegada de mais um carregamento de droga. E como esta não chegando, e começando a circular o rumor de que tinha sido interceptada pela bófia ali para as bandas de Benfica, gangs de traficantes juntam-se aos contribuintes na batalha que se estende já por todas as repartições de Lisboa.
No dia seguinte Lisboa acorda em estado de sítio, com a contenda a alastrar a outros conflitos sociais latentes na sociedade portuguesa: Velhotes digladiam-se com mulheres grávidas pelos lugares reservados nos transportes públicos, distribuidores do Destak fazem emboscadas aos colegas do Dica da Semana, Assembleia da República vs. Chapitô e todos contra os taxistas. Acerca dos confrontos, o Papa diz que Portugal não segue a racionalidade do logos grego e que é portanto uma sociedade de cariz islâmico. Mahmoud Ahmadinejad afirma que nunca ninguém difamou assim o profeta e lança um ataque nuclear sobre o Vatic... 681 ao balcão 12… 681 ao balcão 12… Oiça lá, 681 não é o seu número? Estão a chamá-lo. O quê, ah, desculpe, estava distraído.